Red Queen - Victoria Aveyard

23:12



O mundo de Mare Barrow é dividido pelo sangue: vermelho ou prateado. Mare e sua família são vermelhos: plebeus, humildes, destinados a servir uma elite prateada cujos poderes sobrenaturais os tornam quase deuses.
Mare rouba o que pode para ajudar sua família a sobreviver e não tem esperanças de escapar do vilarejo miserável onde mora. Entretanto, numa reviravolta do destino, ela consegue um emprego no palácio real, onde, em frente ao rei e a toda a nobreza, descobre que tem um poder misterioso. Mas como isso seria possível, se seu sangue é vermelho?
Em meio às intrigas dos nobres prateados, as ações da garota vão desencadear uma dança violenta e fatal, que colocará príncipe contra príncipe - e Mare contra seu próprio coração.

No Brasil, a obra de Victoria Aveyard foi traduzida literalmente como Rainha Vermelha. Como li em inglês e me familiarizei com os termos nessa língua, irei usá-los com maior frequência do que os da tradução.

Red Queen conta a história de Mare Barrow, uma jovem que vive em mais uma realidade distópica e opressora em que a sociedade é dividida entre aqueles que possuem sangue vermelho, os Reds, e os que possuem sangue prateado os Silvers. Apenas os Silvers possuem poderes, e por isso são considerados praticamente deuses. Os Reds são considerados inválidos, corrompidos, e isso se mostra na cor do sangue deles e no fato de não conseguirem manipular elementos. Por anos, a elite de Silvers explorou os Reds mandando os jovens para morrer em guerras e mantendo os demais num estado de constante pobreza e medo. 

Claro que uma desventura resultou na protagonista descobrindo poderes inimagináveis que irão ruir toda a estrutura que sustenta o regime de divisão de castas. Desculpa o sarcasmo, eu estou começando a me cansar dessa mesma narrativa de "a menina ordinária descobre ter super poderes e decide salvar o mundo". Eu defendo o uso de clichês, afinal é improvável ser 100% original na criação de histórias; e além, é sempre reconfortante retornar para os temas já conhecidos e apreciar como autores podem pegá-los, revirá-los do avesso e mostrar perspectivas diversas a partir do mesmo clichê, seja ele a jornada clássica do herói, seja ele a clássica história de amor à primeira vista. É exatamente esse o ponto: clichês são necessários, porque são eles que te fazem e que me fazem procurar mais e mais livros com temáticas e características similares àquela última leitura foda! Mas a gente não quer ler a mesma história de novo e de novo, a gente quer uma surpresa, uma reviravolta que não viu chegar, algo novo, uma releitura que só aquele/a autor/a poderia fazer. 

No começo de Red Queen, eu realmente fiquei interessada pela história da Mare Barrow descobrindo sobre os seus poderes e, sobretudo, e sobre as consequência de ser a única Red conhecida a ter poderes iguais aos dos Silvers. Eu quase podia me sentir como a personagem, perdida e confusa, lançada numa rede de intrigas envolvendo a realeza em que ela é obrigada a assumir uma nova personalidade para esconder o fato de ter nascido como uma Red. Entre as muitas escolhas que a autora teve, ela escolheu fazer a Mare se transformar numa princesa. Lendo isso, eu gritava internamente: NÃO! NÃO! NÃO!


Somos apresentados ao mundinho nada encantado da realeza e aos gatos mais cobiçados da nação - o príncipe Cal e o seu meio-irmão Maven -, os quais obviamente serão os interesses amorosos da Mare. Essa parte do livro é mais parada, pois explora os poderes da Mare, os seus dilemas existenciais que nem são tão problemáticos e assim e, claro, os seus sentimentos acerca dos príncipes. A terceira parte do livro praticamente explodiu na minha cara. Junto com muita pancadaria, sangue, intrigas e traições, muitas traições, vem de bônus uma das escolhas mais felizes da autora. Não vou revelar aqui o que aconteceu, mas quem leu com certeza deve está se tremendo todinho/a só de lembrar AQUELA CENA! VOCÊS SABEM DE QUE CENA EU ESTOU FALANDO!
They trained me for this. It’s their own fault. They helped make their own doom.

PONTOS FORTES:
  • A Mare não é uma mocinha santa e radiante. Ela sabe o que quer e não sente nenhum rancor (talvez, um pouco) ao ter que usar quem for necessário e destruir quem estiver em seu caminho!
  • Cal, meu querido Cal. Pensei que ele fosse mais um príncipe rosa fofo, mas a verdade é que ele é um guerreiro que sabe que terá que fazer grandes sacrifícios pelo bem da sua família e do seu reino. Ele se mostrou ser um personagem forte, fiel aos seus princípios até o fim e não mais um tolo que abandonaria tudo pela mocinha.
  • MAVEN. AAAAAAAAAAAAAAAA
  • O sempre tocante clichê dos rebeldes lutando contra o império malvado!
  • O final foi brilhante. Não sabia para quem torcia, a cada reviravolta eu ficava ainda mais nervosa. A ação, as lágrimas, o sofrimento... Gente, foi lindo.

PONTOS FRACOS:
Bem, essa é a parte em que eu, como uma pessoa que estuda sobre estrutura narrativa e todos os detalhes miúdos de construção de uma narrativa, tem que ser chata. Esse livro é cheio de inconsistências que, se analisadas de perto, tornam a história menos mágica.
  • Alguns livros YA do gênero Distopia tentam fazer culturas parecer muito mais simples do que são, e Red Queen comete esse mesmo erro. Primeiro, eu acho problemático dividir as particularidades de uma civilização em uma característica com dois polos extremos - ou você é Red, ou você é Silver. Talvez, a autora tivesse a intenção de denunciar a necessidade que muitas pessoas têm de estabelecer verdades universais, que jamais poderão ser refutadas. Se assim for, como essa civilização se constituiu? É mostrado no livro que existem outras nações (ou seriam reinos?), uma dessas inclusive está em constante guerra com o reino que a Mare vive. Por que elas estão em guerra há tanto tempo? Por que os Red não fogem para outro lugar? Por que não existe nenhuma via de comércio com outros povos? Não é impossível, mas é improvável que uma civilização baseada na crença de que algumas pessoas foram escolhidos por deuses ou são elas mesmas deuses não busque conquistar cada vez mais território, poder e adeptos do seu estilo de vida. 
  • Todas as soluções do livro, mesmo as que eu achei foda pra caralhoooo, são simples. Elas não exigem muito pensamento nem mesmo planejamento da parte dos personagens. É algo do tipo "ah, vamos explodir aquela sala próxima semana, cara, qualquer hora é hora". Eu senti falta de complexidade. Afinal, a Mare está morando num palácio que é vigiado por câmeras e centenas de soldados! Ela não pode só escapulir para ir numa reunião ultrassecreta com a resistência no jardim não.
  • O ponto mais preocupante: esse mundo em que a Mare vive não faz sentido. Não dá só para pegar referência cool de várias épocas e de vários livros e filmes diferentes e jogar tudo no mesmo livro e esperar que eu diga: still cool! Eu não sou idiota, quero explicações boas! Como é que uma civilização baseada em pessoas como os Silvers que possuem poderes e um exército de serviçais e escravos aos seus pés pode ao mesmo tempo ter desenvolvido carros, eletricidade, trens, câmeras de segurança em todo buraco? E apesar de toda essa tecnologia (eu acho que eles têm até computadores!), os Silvers escolhem viver num sistema claramente aristocrata onde a sucessão do trono é passado para os filhos do rei, não para quem é a pessoa mais poderosa do momento? O reino está em guerra e a ideia mais genial que eles têm é de jogarem os Reds, que não têm nenhum poder, para constituírem a maior parte do exército, ao invés de treinarem Silvers fodas com equipamentos de guerra adaptados aos seus poderes para conquistarem civilizações? Ok, mandar os Reds para a guerra é um mecanismo de controle para evitar conflitos de poder. Mas qual é o ponto em manter uma guerra durante o que parece ser dezenas de anos? Se esse livro fosse 1984, eu até entenderia. 
  • Retornando a essa tal guerra. Eu tenho certeza que ela só foi um gatilho, mais uma solução simples, para mover a história e causar alguma sensação de raiva, injustiça e lamento na Mare e nos leitores. Tenho certeza que nos próximos livros, essa guerra será esquecida completamente e nunca consequência real aparecerá nos livros. Talvez, no máximo, a Mare chegue a conhecer alguém de outro lugar. Mas o reino não irá ser surpreendido por uma invasão bélica. E aqui fica a questão: para que tanto barulho em torno dessa guerra? Se ela fosse mesmo tudo o que a autora tenta por vezes deixar fazer parecer, o reino inimigo estaria batendo nas portas do castelo antes do final do segundo livro.
  • Kilorn, o melhor amigo da Mare, assim como outros personagens possuem nenhuma personalidade e servem somente ao propósito de instigarem a Mare a agir. Sabe, o Kilorn se mete em algum problema e lá vem a Mare assumir partidos e começar revoltas para salvá-lo. 
  • Opinião pessoal: eu tenho essa sensação que o livro seria melhor se tivesse a coragem de abordar mais da sexualidade da Mare ou até mesmo abordar com mais detalhes os momentos românticos. Em algumas cenas mais românticas, parece que a Mare nem se importa de verdade com o que está acontecendo. Ela vai morrer mesmo, então por que não beijar o gato logo?! 
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------





383 páginas
publicado pela Editora HaperCollins nos EUA
publicado pela Editora Seguinte no Brasil


Nota final: sou incapaz de julgar a nota esse livro merece.

Recomendo para aquelas pessoas que ainda não enjoaram de distopia e que apreciam um toque de fantasia na história.





--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

A série Red Queen é constituída por:

0.1 Queen Song
0.2 Steel Scars
1. Red Queen
2. Glass Sword
3. King's Cage
4. Untitled

You Might Also Like

0 comentários

Instagram