O Juiz - Katherine Laccomt

20:01


skoob | amazon | nota: 3/5

Um juiz bem-sucedido e com um relacionamento sério, é assim que se resume, Noah Lancaster. Apesar de tudo estar perfeito, algo falta em sua vida. Mesmo com a bela namorada e os amigos leais, seus dias têm sido monótonos. Até a noite que se depara com Madison Harver. Uma mulher fora do comum, atrevida e extremamente desafiadora, que o excita em todas as esferas possíveis. Ele fará de tudo para tê-la em sua cama.
Madison tem outros planos para a sua vida. Após uma desilusão amorosa, ela vai para Nova York a procura de novas aventuras. E trabalhar no Secret Garden, o clube privado mais sofisticado da cidade, dá a ela a oportunidade de descobertas e redescobertas. Para ela, todos os homens são feitos para o prazer, o dela principalmente. Não passam de meros objetos sexuais para seu usufruto. Até conhecer Noah...
Cada encontro desse casal é explosivo, surpreendendo ambos. Noah se vê perdido e Madison em apuros. Para ele, a ruiva pode desestruturar seu mundo, estrategicamente organizado. Para ela, homens não são confiáveis, nem mesmo o ilustre juiz. O júri já foi convocado e a sentença será dada. Será que ambos vão se entregar a paixão? Ou lutar contra ela? Venha descobrir o veredicto final.

O JUIZ é o primeiro livro da série Secret Garden, a qual narra o desenrolar de romances na vida de quatro amigos ricos, poderosos e sexies. Nesse livro, somos apresentados à Madison Harver, uma mulher decidida, rebelde, que usa em demasia roupas de couro super justas no corpo e que se denomina de conselheira amorosa para as mulheres no tempo livre. Porém, ao invés de cair no clichê de incentivar as mulheres a investirem em relacionamentos vazios e claramente abusivos em nome do tão sonhado amor maior, a Madison manda a real e tem o objetivo de ajudar as mulheres a explorarem as suas sexualidades e a investirem no bem estar e amor próprio. Vou nem mentir que meu coração feminista chega a amolecer, mas só um pouquinho.

Secret Garden se propõe a ser uma série de romance erótico, e como tal também introduz o homem gostoso, rico, ambicioso, teimoso, mandão, com excesso de testosterona e escassez de bom senso. Você com certeza o conhece e já o viu retratado em 98% do gênero. O Noah é aquele homem que "pega todas", é durão, safado, bom de cama, a sua voz faz as pernas da mocinha se tremerem toda e a calcinha ficar molhada, e ainda é fofo, tem um coração gigante..! Socorro! Tem algo que esse homem não é capaz de fazer?

Madison trabalha como bartender no clube Secret Garden, do qual Noah e seus amigos são donos. Contudo, o Noah só percebe de fato a existência de Madison quando esta passa a trabalhar como assistente em seu escritório de advocacia após um infortúnio envolvendo a moça praticamente espancando um pobre coitado que pensava que podia assediar a mulher e sair andando como de cotidiano. O tempo que passam juntos, aproxima-os e faz com que a atração que sentem um pelo outro se transforme em afeto.

Esse livro foi uma experiência divertida, uma leitura leve, sem compromissos e que me arrancou sorrisos. A autora apresentou a Madison como uma mulher que possui valores claramente feministas, mas que não fala em nome do feminismo. Apesar de não concordar com essa escolha (afinal, sejamos todas feministas!), acho que isso torna o livro mais digerível. Ainda existe desentendimento acerca do que é e pra que serve o feminismo, e não são raras as vezes em que encontro mulheres afirmando que feministas almejam ter mais direitos que homens. Sem falar que o feminismo acaba sendo associado por pessoas mais leigas com representações radicais da expressão dele transmitidas pelos meios de comunicação mais sensacionalistas e manipuladores: pensa-se em mulheres enfiando crucifixos na vagina, mulheres com os seios desnudos protestando, imagens do catolicismo sendo quebradas e por aí vai. E ainda tem as questões mais polêmicas do feminismo que também faz com que algumas mulheres não queiram levantar a bandeira. Mas vida que segue. Retornando ao livro, eu considero que as ideias defendidas pela Madison são as formas mais básicas e mais aceitas do feminismo, coisas que praticamente toda mulher defende e quer: ter o direito de vestir o que quiser sem ser assediada na rua, no transporte público, no trabalho etc.; transar com quem quiser quando quiser sem ser chamada de puta; explorar a sua sexualidade; sentir-se bem e amada com o seu corpo sem precisar mudar para se encaixar em padrões de beleza; e ser respeitada por seu/sua parceiro/a.


Apesar de a Madison ser apresentada como uma mulher que busca independência, que é forte e determinada, que jamais se calaria diante de um homem macho alfa; na prática, ela é mais uma mocinha que se treme toda perto do macho alfa. A Madison esconde um lado sensível e frágil por trás da fachada "eu sou melhor que você", e a história explora as questões do passado dela que a fazem agir dessa forma. Contudo, precisamos falar de coerência. A autora não pode me vender a história de uma mulher que defende a importância de descobrir o prazer sexual e me apresentar cenas de sexo em que essa mesma mulher se mostra como uma donzela indefesa diante do macho alfa. E outra coisa, toda vez que acontece algum problema de comunicação entre o Noah e a Madison, ao invés deles resolverem isso como dois adultos bem crescidos, eles gritam um com o outro, a Madison se transforma numa criança birrenta irritada, há juras de ódio, eles passam semanas sem falar um com o outro. Que tipo de relacionamento é esse? É esse ideal de relacionamento que deve ser mostrando para as mulheres e taxado de "maravilhoso", "sexy", "apaixonante", "tudo o que você quer ter e só não encontrou o homem certo ainda"? E para mim não funciona justificar o comportamento da Madison por causa do que aconteceu no passado, muito menos justificar o comportamento do Noah ao afirmar que ele é muito macho para conversar ao invés de sair quebrando coisas e gritando! Esse lance de macho alfa possessivo e louco não é sexy, gente! Isso é uma forma de perpetuar relacionamentos abusivos debaixo da fachada de um relacionamento intenso e explosivo em que as pessoas se amam de mais para serem racionais sobre os seus sentimentos.

O que mais me irritou no livro, contudo, foi o Noah! Quando chamo ele de macho alfa, é por uma razão! Toda vez que ele dizia para a Madison trocar de roupa ou simplesmente jogar a roupa que ela comprou com o dinheiro dela no lixo, eu me tremia toda de raiva! Inclusive tem uma cena em que ele joga uma roupa dela no lixo, porque nenhum outro homem tem o direito de olhar para a mulher dele naquela roupa! Ele não tem nenhuma personalidade, porque ele é um esteriótipo ao invés de um personagem com convicções, medos e sonhos.

Para terminar, eu continuo achando positiva a mensagem que o livro quer passar, mesmo que com medo de arriscar: mulheres têm o controle dos seus corpos, não precisam perseguir ideais de beleza nem se prender a tabus da sociedade, devem se experimentar e descobrir o que lhes dar prazer! Então, leia por sua própria conta e risco, avisada de que vai se estressar e talvez rir um pouco.

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A série Secret Garden é composta por

1. O Juiz
1.5 Veredicto Final
2. Your Destiny
3. Devora-me
4. Tyler: redescobrindo-me sua

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