Diálogo, narrativa e ação.
19:02
O diálogo é fundamental à narrativa de um texto, pois é através dele que as personagens podem expressar seus pensamentos e seus sentimentos. Além de tornar o texto mais dinâmico, o diálogo pode ser usado como solução para descrições ou explicações essenciais à história que se alongariam em vários parágrafos e exigiriam atenção do leitor para não se perder na narrativa. Apesar da sua importância, o uso em excesso de diálogos pode tornar a narrativa cansativa e entediante, em vista que pode causar a impressão de estarem duas cabeças flutuantes conversando, incapazes de interagir com o mundo ao redor delas.
Primeira observação: as personagens existem inseridas num determinado contexto (espaço+tempo). Uma conversa dentro de uma biblioteca soaria completamente diferente de uma conversa em um ginásio esportivo. É dever do/a autor/a acrescer esses pequenos detalhes que transformam a narrativa em mais do que um conjunto de palavras estruturadas dentro de regras gramáticas, são os detalhes que fazem os/as leitores/as se sentirem jogados/as para dentro do universo da história.
Digamos que eu estou escrevendo uma cena que se passa dentro de uma biblioteca e use apenas as demarcações básicas de diálogo. Observe:
Digamos que eu estou escrevendo uma cena que se passa dentro de uma biblioteca e use apenas as demarcações básicas de diálogo. Observe:
- Você está me escutando? - disse ela.
- Não precisa gritar - disse ele.
Esse diálogo, mesmo que pequeno, diz algo sobre os personagens ou sobre onde eles estão? Não, porque ele está descontextualizado. Esse diálogo poderia acontecer em qualquer lugar, e isso nem sempre é bom, porque eu preciso mostrar ao/à leitor/a onde as personagens estão.
Ao acrescentar o contexto da biblioteca, precisaremos de ações que denunciem o espaço em que esse diálogo ocorre.
- Você está me escutando? - inquiriu ela.
- Não precisa gritar - sussurrou ele.
Melhor? Agora, foram acrescentados verbos com o propósito de simular alguma ação. Contudo, ainda falta uma descrição consistente sobre como as personagens se comportam no contexto da biblioteca. Afinal, esse diálogo vago ainda poderia se passar em praticamente qualquer lugar, não?
- Você está me escutando? - inquiriu ela, colocando uma mão sobre a boca para abafar o som.
Ele ergueu o olhar atento do livro para encarar a amiga.
- Não precisa gritar - sussurrou ele em tom de desaprovação.
Pontos positivos por acrescentar detalhes à narrativa. Percebe que agora o diálogo parece acontecer entre duas pessoas que agem em um contexto (ou de estímulos discriminativos contidos no ambiente, para quem tiver algum conhecimento em Análise do Comportamento). A história parece mais real, porque as pessoas estão de fato interagindo com o ambiente e mudando seus comportamentos a partir deles. Na narrativa, eu não precisaria dizer que as personagens estão numa biblioteca, bastava acrescentar detalhes e ações ao diálogo que fariam o/a leitor/a perceber que elas se encontram num lugar em que não devem falar alto e lendo, o que deixaria óbvio onde a história se passa.
🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼
Dicas para escrever diálogos
- Caso você não seja o José Saramago, não tente misturar diálogos num mesmo parágrafo. O que parece ser uma excelente ideia pode terminar se tornando confuso para você e para o/a futuro/a leitor/a. Vamos começar no nível básico, certo? Cada personagem ganha seu próprio parágrafo; e quando a pessoa a falar mudar, acrescente mais um parágrafo para o seu diálogo.
- No parágrafo da fala de uma personagem, você tem toda a liberdade criativa de acrescentar ação, descrição, pensamentos, etc.
- Você pode interromper uma fala para acrescentar alguma descrição, ação, pensamento, etc. Mas cuidado! Não esqueça que pausas muito longas em um diálogo pode atrapalhar o ritmo e a fluidez da narrativa, e entendiar o leitor com informações desnecessárias no momento.
- Você pode colocar uma descrição da ação da personagem antes ou depois da sua fala, como eu fiz no terceiro exemplo lá em cima.
- Assim que for estabelecido qual personagem está falando, não é necessário ficar repetindo "disse" o tempo todo.
- Amiga, você nem acredita o que eu aprendi hoje? - disse Lullys.
- Pra que esse suspense? Fala logo - exigiu Emília.
- Eu aprendi que a gente não precisa ficar repetindo a marcação de diálogo, como "disse" e "falou", em toda nova fala de uma personagem. Porque já ficou claro quem está falando, entendeu?
- Como agora? Quem está lendo sabe quem sou eu? Tem certeza?
- Tenho amiga. Se não tem qualquer descrição entre um diálogo e outro, é só seguir uma ordem lógica. Primeiro eu falo, depois você fala, aí eu respondo, e você me complementa. Simples assim!
Afinal, o que você pode fazer com esse novo conhecimento?
- Você pode acrescentar descrições acerca do comportamento das personagens para orientar o/a leitor/a acerca do ambiente e do tempo em que a cena se passa enquanto elas estão conversando.
- A forma como uma personagem se posiciona em determinado contexto, a forma como ela age, como ela fala com o seu corpo, releva mais sobre a personagem do que descrever quem ela é com excesso de adjetivos.
- Você tem a oportunidade de acrescentar pensamentos das suas personagens ao diálogo. Isso se torna ainda mais interessante quando é mostrado o contraponto entre o que as personagens pensam e o que elas realmente falam.
- Você pode controlar o ritmo da narrativa. Diálogos entrecortados com longas descrições possuem um ritmo mais lento e tendem a possuir aspecto introspectivo por focar nas personagens; enquanto diálogos que possuem somente a marcação de fala quando necessário são lidos mais rápidos.
🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼🔽🔼
Espero que as dicas ajudem a melhorar a sua escrita! Qualquer dúvida, pode perguntar!
0 comentários