Como vencer o NaNoWriMo: Planeje a sua história já!

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Antes de sentar para escrever cinquenta mil palavras em novembro, é fundamental se preparar com antecedência para encarar os desafios de construir uma história. A partir da minha experiência de fracasso nas edições passadas do NaNoWriMo, hoje reconheço que, se eu tivesse seguido os passos seguintes, eu teria me frustrado menos com pontas soltas, problemas de estruturação da história, personagens fracos e zero conhecimento de para onde a história iria me levar.

Nos últimos anos, fui intuitiva. Sentava-me e escrevia. Nesse ano, terei um plano para vencer esse desafio. Ao menos, o meu desafio: escrever 30.000 palavras em novembro! 

Antes de começar a se estressar com a perspectiva das loucuras que você cometerá para conseguir escrever, reflita muito bem sobre qual a premissa da sua história. Afinal, se você vai dedicar parte considerável do seu mês construindo-a palavra por palavra, é interessante saber bem sobre o que você está escrevendo para evitar se perder. 

A premissa é o ponto de partida e a base estrutural da história: Sobre o que ela é? Quem são as suas personagens? O que elas desejam? Quais os desafios para conseguirem o que almejam?

As respostas para tais questões podem até ser modificadas durante o processo de escrita. Você não precisa saber de cada detalhe da história antes de começar a escrevê-la, mas uma premissa bem construída é fundamental para você manter o foco na história que pretende contar. A partir dessa premissa, você terá mais facilidade para desenvolver a história, pois saberá o papel das personagens na trama e os conflitos que elas enfrentarão.

Primeira premissa: A pergunta que deu origem a uma história

Tomarei a liberdade de buscar referência no livro A Bíblia do Escritor de Alexandre Lobão, em que há um excelente capítulo sobre o tema.

Antes de toda grande história, existiu uma pequena ideia que manteve uma escritora ou um escritor andando sonhando por dias em desassossego. Praticamente todos os dias, temos algumas ideias sobre uma cena, uma história, uma personagem, uma postagem, uma frase de efeito que ficaria legal em tal momento... Há ainda aqueles, como eu, que montam diversas coleções de imagem no Pinterest e criam playlists no Spotfy a partir de uma ideia avassaladora. Em meio há tantos lampejos de inspiração, como escolher a ideia certa para construir uma história?

Primeiro, devo me retratar: não existem ideias certas nem ideias erradas. Existem, no entanto, ideias passageiras e ideias inspiradoras. As primeiras dizem respeito àquelas ideias súbitas que aparecem durante o dia e desaparecem durante a noite. As segundas se referem àquelas ideias outras que te seguem como uma presença constante e próxima, que te causam inquietação, que te motivam a pesquisar mais sobre ela e a desenvolvê-la. Há ideais, como essas, que nos assombram por anos. 

O livro que escreverei nesse ano durante o NaNoWriMo, por exemplo, começou a partir de uma ideia que tive há cerca de cinco anos. Ela foi a base da história, porém a forma como resolvi utiliza-lá e explorá-la ideia mudou dezenas de vezes durante esse período. 

Caso você julgue que não possui qualquer ideia inspiradora para te motivar e te inquietar a escrever, pode se utilizar de prompts. Em tradução, prompt pode significar "incitar", "pronto", "imediato", "rápido". De fato, prompts são ideias prontas que servem de inspiração para escrever. Infelizmente, não conheço sites nacionais dedicados a fabricá-los. Então, vou deixar aqui alguns dos meus sites preferidos: Deep Water Prompts, Promptuarium, Writer of the Prompts e Pinterest.

A partir dessa ideia inicial, Alexandre Lobão sugere que você formule uma pergunta que irá responder ao longo da sua história. Essa pergunta também servirá para construir a premissa de sua narrativa. No caso de Harry Potter e a Pedra Filosofal, por exemplo, a premissa básica poderia ser "Como seria a vida de um garoto de 11 anos após receber uma carta para estudar numa escola de magia e bruxaria?"


Essa pergunta não definirá completamente a sua história, porque você pode modificá-la durante o seu processo criativo. Ela também não será um resumo dessa história. Pelo contrário, a pergunta será uma possibilidade a ser explorada. Uma possibilidade a partir da perspectiva de determinados personagens. Portanto, também uma possibilidade de criação limitada. E isso é bom, porque já situa você na história a ser contada: essa história é sobre personagem A, que vive de determinada forma e que irá enfrentar alguns desafios para conquistar algo ou solucionar algum conflito.

A partir da pergunta que dará início às suas explorações, você poderá desenvolver melhor a história ao estabelecer a premissa dela.

Fórmula para desenvolver uma boa premissa

Em A Bíblia do Escritor, entre a escolha da ideia inspiradora, a formulação da pergunta introdutória e a construção de uma premissa, há diferentes capítulos que trazem auxílios para ajudar escritores a amadurecerem ideias, pesquisar e desenvolvê-las antes de partir para a premissa de um livro. Contudo, faltam cerca de vinte e cinco dias para o NaNoWriMo começar. Algum dia, poderemos conversar sobre a gestação de ideias com mais calma; hoje, estamos trabalho sob pressão! 

No capítulo dedicado ao tema, o autor sugere a adaptação do modelo dialético para a estruturação de premissas. Para tal, o modelo tese-antítese-síntese se transforma em funções para a narrativa.

Uma premissa em três partes 

Tese: constituí a primeira parte da história, em que você apresentará o que Alexandre Lobão chama de "status quo" da história (onde se passa, em que época se passa, quais são as personagens e quais são seus desejos, como as personagens se inserem nesse mundo, quais as condições iniciais...).

Antítese: constituí a parte da história em que serão apresentados conflitos para "provar a tese errada". Em outras palavras, certos conflitos irão desestabilizar a vida cotidiana de suas protagonistas, levando-as a refletir sobre sobre suas condições iniciais (a tese) e a agir de modo a transformá-las (levando-as à síntese). Na maioria das histórias, esses conflitos são gerados pelos ditos antagonistas.

Síntese: parte final da história, irá indicar a conclusão dela a partir dos conflitos entre tese e antítese, entre protagonistas e antagonistas. A síntese tende a responder a uma questão formulada no começo da história: onde queremos chegar?

Como exemplo, usarei a possível jornada de crescimento de Jon Snow na última temporada de Game Of Thrones. Se você ainda não sabe qual spoiler vou utilizar, eu realmente não sei onde você estava se escondendo nos últimos meses... Mas, para dizer que não avisei: spoilers à frente!

Tese: Jon Snow acredita ser filho bastardo de Ned Stark. Tudo o que ele quer aparentemente é proteger Westeros da ameaça do Senhor da Noite e dos seus Caminhantes Brancos. 

Antítese: Jon Snow descobre (através do Bran?) que é, na verdade, filho legítimo de Lyanna Stark e Rhaegar Targaryen. Além de ser herdeiro do trono de Ferro, tendo inclusive mais direito de ser coroado Rei dos Sete Reinos do que a Daenerys Targaryen. Por causa disso, pode ser que outras personagens escolham proclamá-lo Rei, recusando assim o título da Dany por achá-la perigosa demais.

Síntese: Para onde está história vai, certo? Todos nós estamos ansiosos para saber como Jon irá reagir. Será que ele se casará com a Daenerys para atenuar o conflito de poder? Será que ele vai virar Rei mesmo? Só os produtores sabem... Mas são essas questões que nos motivam a assistir, ler sobre, procurar qualquer material e especulação duvidosa sobre o fim da grande jornada do Jon. 



Pesquisa, pesquisa, pesquisa

Após ter certeza sobre qual será a estrutura básica da sua história, recomendo que você dedique algum tempo para um trabalho muito importe: a pesquisa.

Sua história será sobre aliens que invadiram a terra? Um casal que se apaixona em Nova York? A luta eterna entre lobisomens e vampiros? Não importa a premissa da sua história, a pesquisa é essencial para que você colete o maior número de dados possíveis para enriquecer a sua narrativa e proporcionar alguma verossimilhança com o mundo real. 

Realizar a pesquisa antes de começar a escrever pode poupar você de inúmeras dores de cabeça. Acredite, haverá algum ponto da história em que você vai se questionar como é o clima da cidade na história e você irá deixar de se focar na escrita para dedicar algum tempo à pesquisa. Geralmente, também à procrastinação. Ao realizar essa coleta de dados antes de iniciar a história, você poupará tempo, conseguirá se focar melhor no processo de escrita e ainda obterá inspiração de elementos para incorporar à narrativa. Afinal, você estará se debruçando sobre histórias de cidades, de línguas, de seres mágicos, e isso irá influenciar a sua narrativa de alguma forma. Irá enriquecê-la com detalhes!

Mas tome algumas precauções durante as suas pesquisas. Primeiro, lembre-se de que você tem uma história para estruturar e escrever. Algumas pessoas, como eu, tendem a se empolgar demais e estender o tempo da pesquisa de forma a estar sempre adiando o começo da escrita. Não cometa esse erro! Estabeleça algumas informações das quais você gostaria de saber sobre e mantenha-se focado em buscar dados sobre elas.

Segundo, você não precisa saber cada mínimo preciso detalhe sobre algo, anotar páginas e páginas com dados históricos, nomes complexos, citações e referências bibliográficas. Anote somente o necessário para a sua história! No começo, é difícil compreender o que é de fato relevante para a construção de suas personagens e de seu mundo. Contudo, você precisa fazer escolhas eventualmente.

No meu caso, eu sou a louca da pesquisa! Mas estou aprendendo a praticar o desapego. Agora, estou tentando anotar somente o essencial para a minha história. Eu salvo, contudo, links de site e trechos de livros que achei interessante junto com as minhas notas, para caso eu tenha vontade de retornar a elas e procurar algum detalhe que deixei passar ou que somente depois decidi ser relevante à história. Para que eu consiga identificar esses links no futuro, escrevo algo relacionado a eles ao lado de cada link. E tento montar algum sistema de organização das minhas notas. Por exemplo: criei um documento chamado "Alemanha"; nele, adiciono apenas notas relacionadas a peculiaridades desse país. Em outro documento chamado "Diabetes", ficam as notas próprias das minhas pesquisas sobre a doença, os exames, os tratamentos e o relato de pessoas que são diabéticas sobre suas rotinas e  suas dificuldades.

A pesquisa pode ocorrer em qualquer momento do processo criativo. Eu costumo fazer as minhas pesquisas após ter desenvolvido a premissa da história e de saber mais ou menos o que acontecerá nela. Mas você pode achar melhor pesquisar enquanto ainda está à procura de sua ideia inspiradora, ou mesmo antes de definir a premissa da sua história. Só não deixe para começá-la enquanto está no meio da escrita.

Por último, a pesquisa não é algo fechado. Durante todo o processo de criação de um livro, da sua primeira palavra escrita à última revisão, você estará constantemente voltando à sua pesquisa inicial em busca de referências para tornar a sua história mais real e interessante ao leitor. Mesmo que surja a necessidade de pesquisar outros assuntos, você terá uma base por onde começar. Por isso a importância de um período de pesquisa bem aproveitado!

Em textos futuros, iremos reservar algum tempo para discutir sobre criação de personagens e estruturação narrativa. Até logo!

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