De antagonista a herói
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É inegável afirmar que, nos últimos anos, os antagonistas estão ganhando mais destaques nas mídias e no coração dos fãs. Eles roubam a cena e ganham maior prestígio que o “mocinho” da história. Eles estão cada vez mais sedutores e complexos, suas histórias nos fascinam e as suas motivações parecem, por vezes, mais compreensíveis que as do herói.
Em tal época, seria de se esperar releituras de antigos vilões que povoam o imaginário da cultura pop, como foi o caso da vilã icônica da Disney, em Malévola, e do vampiro mais famoso de todos os tempos, em Dracula Untold. Até mesmo na animação infantil Frozen vemos a releitura de uma vilã dos contos de fadas, a Rainha das Neves, através da Elza.
Não estou aqui para debater sobre a qualidade desses filmes, mas para realizar uma análise de um tema que todos têm em comum - a releitura do vilão.
Drácula, Malévola e a Rainha da Neve, em seus contos originais, são criaturas terríveis que desconhecem a Moral e a Bondade. Porém, através de suas novas roupagens, eles ganharam aspectos mais bondosos e nobres, características dignas de heróis.
Em Dracula Untold, temos um príncipe que escolhe condenar a sua alma ao se transformar num vampiro para salvar a população de seu reino. Apesar da sede de sangue, ele luta consigo mesmo para resisti-la, pois ceder à fome seria abandonar aquilo que há de humano em si. Obviamente, em dado momento, ele bebe de sangue humano, porém este não tem uma conotação animalesca; toda a cena parece realçar as qualidades e a força do protagonista, se ele bebe sangue não é por causa de sua fome, mas para que o último sacrifício de sua amada não seja em vão. E, ainda mais para frente no filme, depois de ele ter causado tanta destruição e a morte daqueles que amava (e ainda ter criado mais seres da sua espécie), ele percebe que a única forma de redimir a sua existência dedicada ao sofrimento seria através da sua morte e daqueles que transformou em vampiros. Assim, numa cena demasiadamente dramática e que dá a entender que ele é capaz de controlar o clima (Como assim, né?), ele permite que o sol apareça entre as nuvens para queimar-lhe a pele.
Na minha parte preferida do filme (está mais para a única parte realmente boa do filme…), ele afirma que há épocas em que o mundo não precisa de mais um herói. Ou seja, aqui, ele está usando o mesmo pressuposto que a maioria dos antagonistas - ele deve ser cruel e insensível para fazer o que for necessário para impedir mais guerras e mortes. Como estes, Drácula se vê como um herói trágico, assombrado com o peso de suas escolhas, com o sangue em suas mãos. O seu senso de Justiça pode ser deturpado, mas, para si, ele precisa ser um monstro, para poder compreender e deter o Mal com o qual batalha.
Em Malévola, a história segue de forma diferente, pois ela encontra uma forma de redimir a si mesma através da jovem Aurora. Na história, Malévola era uma fada boa e gentil que, após um grande trauma, transformou-se num ser ressentido e amargurado, que odeia os humanos. Na tentativa de proteger o seu povo deles, ela abusa de seu poder e transforma o seu Paraíso num Inferno. Aliás, na sua história há várias alusões à queda de Lúcifer. Assim como este, ela perde as suas asas e, metaforicamente, caí, abandonando a sua Bondade e Inocência para metamorfosear-se na Rainha gélida de um reino infeliz e sombrio.
Ela coloca uma maldição na filha do seu amor da adolescência, agora Rei. Esse evento desencadeará os eventos que servirão para redimir a personagem. Ao logo dos anos, Malévola observa a menina crescer e, sem querer, encontra-se cuidando dela (visto que as fadas madrinhas são desatentas e irresponsáveis) e tornando-se sua amiga. Quando Aurora cresce, Malévola a leva para o seu mundo, o qual, novamente, se enche de vida e de beleza.
Aurora conseguiu despertar a bondade que havia em Malévola e mostra-lhe que mesmo monstros são capazes de amar e de recompensar os seus atos.
Frozen foi baseado em Um Conto de Sete Histórias, de Hans Christian Andersen. Seis dos sete contos contam a história de como uma menina viveu várias aventuras para resgatar o seu irmão, que havia, misteriosamente, desaparecido um dia. Na verdade, ele fora seduzido pela Rainha das Neves para abandonar sua família e morar com ela em seu castelo feito de neve (literalmente).
Elza não é a primeira personagem a ser baseada na Rainha das Neves, ou você não se lembrou da história de Edmund e da Feiticeira Branca ao ler o resumo do conto? No entanto, Elza foi a primeira que teve um final diferente.
Elza cometeu um terrível erro ao quase matar a sua irmã e, desde então, evitou manifestar o seu poder, trancando o seu verdadeiro eu dentro de si. Eventualmente, esse poder fugiu de seu controle e ela lançou um inverno sem fim sobre o seu Reino. Ao refugiar-se nas montanhas para viver sozinha, onde não poderia machucar ninguém, ela poderia, facilmente, ter se tornado uma pessoa amargurada e infeliz, transformando-se, assim, na antagonista da história. Porém, com a ajuda da irmã, ela consegue encontrar a sua própria redenção e transformar-se numa improvável heroína.
3 comentários
Oie Isabelle =)
ResponderExcluirEu gosto bastante dessas releituras de contos antigos que estão fazendo. Dos que você citou Malévola eu não curtir muito o filme, mas achei ele bonitinho. Drácula eu ainda não vi e Frozen é muito amor <3!
Beijos;***
Ane Reis.
mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
@mydearlibrary
Olá, flor!
ResponderExcluirAdorei sua análise. Eu assisti aos 3 filmes e pude, portanto, entender o seu ponto de vista. Concordo com você que o antagonista está se tornando, mesmo, um personagem amado pelos leitores/espectadores. Cito o Jack Sparrow, de Piratas do Caribe, que não possui lealdade ou honra e consegue ser o grande protagonista em toda a série (rs). Impossível não amar essa face dos personagens, que sofrem e lutam contra seus próprios monstros interiores por algo em que acreditam.
Eu temo apenas que o herói seja considerado tolo nesse quadro… Aquele típico cara bonzinho que "é sem graça". Ser leal, nobre, honrado nunca deve perder a beleza.
Beijos, flor!
http://www.myqueenside.blogspot.com
Olá!
ExcluirGostei muito do seu comentário, ele me deu uma ótima ideia para um post futuro falando sobre heróis.
Pessoalmente, eu costumo me interessar mais pelos antagonistas do que pelos heróis. Mas compreendo o seu ponto de vista. De fato, as características que fazem do protagonista o grande herói da história não devem ser ignorados e vistas como algo sem graça e chato. É importante disseminar e valorizar essas características.