O Livro do Silêncio - PJ Pexeira
21:47 Minha avaliação: 74/100
Começo sofrível. Final que poderia ter sido, de fato, um final. Apesar desse comentário inicial, tenho também boas ressalvas a fazer sobre esse livro.
Na África ancestral, Orunmilá, o maior adivinho de todos os tempos, não entende por que seus instrumentos se calaram. Nos dias atuais, um jovem jornalista se aventura pelas ruas de São Paulo, tentando fugir de uma missão que não deveria ser sua. No primeiro livro da série Deuses de dois mundos, Ogum, Xangô, Oxóssi e Oxum se unem a gente do nosso tempo para resgatar os 16 príncipes do destino, numa narrativa que preserva toda a sensualidade e violência original dos mitos africanos dos orixás.
(Resenha livre de spoilers)
O livro é dividido entre duas histórias, e os capítulos intercalam essas narrativas, de forma que se torna claro que, em certo momento, elas irão se encontrar. Os capítulos ímpares são escritos em forma de e-mail pelo New, enquanto os pares são narram a aventura de Orunmilá e de seus companheiros na busca de derrotar as Iá Mi, em um outro mundo paralelo ao nosso, onde os homens ainda veneram e recebem a ajuda dos orixás.
Vou ser sincera, esse livro demorou para me prender. Acho que passei quase um mês negligenciando a leitura, até que finalmente conseguisse me interessar pelo que acontecia. Por se tratar de uma mitologia que não é conhecia pela grande parte da população, como a grega ou a nórdica, os termos e o próprio mundo retratado são complicados, e o autor não faz nenhum esforço para ajudar o leitor a se situar nesse novo espaço místico.
Logo, o grande diferencial do livro acaba se tornando em um dos problemas técnicos dele. A Mitologia de Deuses de Dos Mundos é baseada na cultura Yorùbá (estarei em breve escrevendo um texto sobre isso), que tem como uma das correntes religiosas o candomblé. Então, quando peguei o livro, eu acreditava que ele se utilizaria dessa riquíssima cultura, porém também acreditava que o autor teria o bom senso de nos explicar sobre ela, não apenas jogar fatos e palavras das quais desconhecemos o significado. Mesmo o pequeno glossário de termos africanos no final do livro é desnecessário, visto que teria sido mais satisfatório que o escritor acrescentasse aquelas palavras no texto, visto que elas estão diretamente ligadas ao cotidiano de um grupo de personagens.
O maior problema do livro, contudo, é o New. Ele é arrogante, prepotente, cheio de si, imoral, idiota, irritante e chato pra caralho. E o autor ainda tenta nos fazer convencer de que ele é um rapaz "astuto", inteligente e bacana, um personagem que merece o título de herói. Ele não merece nem o título de vilão, sinceramente, porque nem vilões são tão chatos quanto ele.
Como se apenas a personalidade dele não fosse ruim o bastante, os capítulos dele são a maior enrolação. Ele passa páginas e páginas divagando sobre si mesmo e sem levar a história a lugar nenhum.
Apesar disso, eu tenho esperança de que o New passará por uma jornada de redenção. Espero que não esteja enganada.
Os capítulos pares, os que contam a história do outro mundo, são os mais interessantes. Eu só consegui terminar o livro, porque li primeiro todos os pares e depois passei os olhos em cima dos ímpares.
O mundo que o escritor criou é fantástico, cheio de misticismo e de personagens com os quais conseguimos simpatizar e torcer para que continuem vivos (ao contrário do New). Porém, em vários momentos, fiquei com a sensação de que eles são unidimensionais. Por exemplo, há um personagem que cometeu um "crime" muito horrível no passado, por causa disso ele passa muitos anos recluso na floresta, e chega a se transformar num bárbaro. Porém, subitamente, todas as marcas de instabilidade psicológica deixadas por aquele "crime" desaparecem como se nunca houvessem existido. E toda a complexidade do personagem vai para o espaço.
Outra coisa que me incomodou foi o final, assim como o fato de que esta é mais uma trilogia que poderia facilmente ser um bom stand alone. A história é curta, o livro só parece grandinho por causa do tamanho das letras, que poderia ter sido menor. Além disso, muita coisa que o New escreve poderia ter sido facilmente jogado no lixo, porque não acrescentam nada a história, somente frustam o leitor. Então, não vi necessidade de separar o que deveria ter sido um livro em três. Mas, assim se ganha mais dinheiro, fazer o que....
"Como pode ser errado se permitir algum prazer, se isso não significa necessariamente que alguma outra pessoa será prejudicada?"
Apesar de todas as minhas ressalvas, eu fiquei curiosa para saber como será a conclusão. Como eu disse antes, há alguns personagens que são simpáticos e divertidos, e eu quero saber o que irá acontecer com eles.
Se eu recomendo o livro? Sim. Ele ainda é uma forma de conhecer uma nova cultura, apesar de ser de uma forma confusa e superficial. Além disso, há bons momentos, que realmente me fizeram vibrar, ficar exasperada e toda emotiva torcendo para que um certo casal desse certo.
1 comentários
Caraca, de perto e de longe a resenha mais dura que eu li desse livro!!! Você não teve pena passou o sarrafo com propriedade!!! #Adorei Agora eu vou te contar, acho um absurdo que nós brasileiros conheçamos melhor a mitologia nordica e a grega que a mitologia dos orixas que venho da África, mas foi em muito aprimorada aqui no Brasil. Nós conhecemos bem a cultura alheia e ignoramos a nossa, olhamos para nós e dizemos: "Somos um povo mestiço de negro, branco e índio.", mas o que sabemos sobre a cultura indigena e africana? Uma bela mistura de nada com coisa nenhuma na maioria das vezes, quando não temos medo de orixas e derivados.
ResponderExcluirEu ainda não li esse livro, mas pretendo ler, admiro o esforço do autor em trazer a tona essa mitologia e quero conhecer, mas já vou avisada para não esperar muito do protagonista, que deve ser bem chato.
Cheros, Pandora.