Allegiant, Veronica Roth

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 Minha avaliação: ★ ★ ★ ★ ★           

Terminei de ler Allegiant há quase um mês e ainda não consegui terminar outro livro, pois há, em mim, uma sensação de incompletude, de desilusão arrasadora. Muitas vezes, relembro-me do livro e discuto com a autora – Está errado, moça! Está tudo errado! E, eu não me refiro somente ao dramático final de Allegiant.


A sociedade baseada em facções, na qual Tris Prior acreditara um dia, desmoronou – destruída pela violência e por disputas de poder, marcada pela perda e pela traição. No poderoso desfecho da trilogia Divergente, de Veronica Roth, a jovem será posta diante de novos desafios e mais uma vez obrigada a fazer escolhas que exigem coragem, fidelidade, sacrifício e amor. 

Admito que eu tinha receio de começar a ler Divergent. A premissa da história não me parecia nenhum pouco original. Para mim, Veronica Roth estava apenas aproveitando os bons ventos gerados por Jogos Vorazes para fazer algum dinheiro. Apesar de meu receios, encarei a leitura por mera curiosidade (na época em que o li, Divergent era assunto corriqueiro na blogosfera e na dash do meu Tumblr). Nunca me arrependerei de ter dado a ele uma chance (nem 3 chances a City of Bones *.*). Tanto Divergent quanto Insurgent causaram uma espécie de metamorfose incompreensível em mim. Juro, não seria metade da pessoa que hoje sou, caso não houvesse passado por esses livros (um dia, quando eu mesma compreender, prometo que explico). “Be brave!”


"It is impossible to erase my choices. Especially these."

O plano de fundo pode não ser original, assim como a forma de contar a história, porém há certas características que tornaram os dois primeiros livros bastante especiais para mim:

- A personagem principal, Tris, é uma heroína na essência da palavra: Ela é valente, forte, destemida, esperta, humilde e, às vezes, altruísta. Contudo, ela também tem defeitos, algo que a escritora soube explora com maestria raramente vista em YAs.

- Não apenas a Tris é humanizada de uma forma incomum, mas também o são outros personagens, o que torna a narrativa bastante inquietante e emocional.

- Apesar de a conclusão ser completamente óbvia, a escritora consegue criar um fantástico clima de suspense e dúvidas e intrigas.

- A escritora não tem pena dos sentimentos do leitor, ela simplesmente mata as pessoas mais improváveis nos momentos mais improváveis, o que contribui, como ela mesma falou em uma entrevista, para criar a atmosfera tensa de um conflito interno por poder.

- Pela primeira vez, li um YA em que o casal principal é fofíssimo e apaixonante, porém um não vive em função do outro. O que eu mais gosto em relação à Tris e ao Tobias é que eles formam um casal imperfeito.

Rememorando essas características que me fizeram proclamar, há menos de um ano, em alto em bom som que Divergent era a minha nova saga preferida, fez-me lembrar do grandioso final que foi me prometido pela autora, mas que nunca foi escrito. Desde já, advirto: Allegiant foi a minha maior decepção literária!

Tudo saiu errado. O começo do livro foi confuso, pois, ao invés de se situar como continuidade do ato interrompido em Insurgent, se inicia em uma realidade da qual o leitor tem pouquíssimo conhecimento. A cidade de Chicago está, novamente, sendo controlada por um regime ditatorial, indisposto a resolver os problemas por vias diplomáticas ou a aceitar qualquer pequena verdade que não seja a sua própria. Dessa vez, quem está no poder é Evelyn e os sem-facções; aqueles leais ao sistema de facções tornaram-se, então, os novos rebeldes, que lutam contra os antigos rebeldes.

I am not all right. I was beginning to feel that I had finally found a place to stay, 
a place that was not so unstable or corrupt or controlling that I could actually belong there. 
You would think that I would have learned by now—such a place does not exist.

No meio desse conflito, Tris está completamente dividida sobre a quem deve a sua lealdade; ela não confia nos ideais revolucionários e justiceiros de Evelyn tampouco acredita que retornar ao sistema de facções seria a solução para o colapso governamental e social em Chicago. Resultado: Tris fez o que qualquer outra protagonista teria feito, ela arranjou um jeito de sair da cidade para descobrir toda a verdade.

Até aí, o livro até manteve um ritmo interessante, porém, a estadia da Tris e de seus companheiros no mundo do lado de fora de Chicago é sofrida, arrastada e muito, muito chata. É a partir desse momento, em que ela tem o primeiro contato com as pessoas que vivem fora de Chicago, que a autora começa a perder o controle sobre a sua história.

{{ SPOILERS à diante}}
Há tantas lacunas, tanta falta de sentido, tantas coisas resolvidas de última hora... Primeiramente, a desculpa para a existência das facções é um pouco forçada e muito mal explicada. Quer dizer que, depois de mais outra guerra mundial quase extinguir a humanidade, resolveram modificar a genética humana para inibir a expressão dos genes causadores de comportamento maléficos, porém, ao se constatar que esta não era uma das ideias mais brilhantes que já tiveram, resolvem concertar o erro ao criar simulações – como a cidade de Chicago –, visando promover a mistura de pessoas que possuem DNA modificado e corrompido com pessoas que possuem DNA puro, para que, de tal forma, os danos nos DNAs sejam atenuados de geração a geração, até que surjam divergentes, pessoas que possuem DNA puro? Sério mesmo? É uma ideia interessante, eu admito... Mas... Eu estudo Biotecnologia. E, mesmo se não estudasse, eu sei o suficiente sobre genética para não engolir isso tão facilmente como a escritora explica.

Acreditem, eu expliquei muito melhor em poucas linhas do que a Veronica Roth em um livro inteiro.


How many young men fear that there is a monster inside them?
People are supposed to fear others, not themselves.

Aí, do lado de fora de Chicago, Tris descobre não apenas a verdade sobre a sua cidade e o sobre o seu mundo, com também o passado de sua mãe, algo que foi uma enorme surpresa para mim, apesar de eu achar que isso pouco contribuiu para o avanço na história. Aliás, muito pouco do que aconteceu até dois capítulos antes de O Capítulo Decisivo parece ser favorável ao progresso da história. Personagens que pensamos serem importantes aparecem e desaparecem com a mesma rapidez, sem que o leitor tenha tempo de conseguir compreender os seus ideais. A razão disso foi a narrativa exageradamente objetiva, que fez a história correr com uma velocidade maior do que a necessária para que ela se desenvolvesse propriamente. Por causa disso, não apenas a história ficou muito vaga, como também se perdeu, completamente, o contato com os personagens secundários. Em Alligiant, qualquer personagem, exceto a Tris, parece deslocado, sem propósito de existir. Eles simplesmente vagam pelas páginas e, vez por outra, possuem o bom senso de morrer para que sejam lembrados outra vez.

Até mesmo a Tris, que eu sempre achei uma ótima personagem, perdeu o seu rumo. Ela se torna tediosa, dramática, egocêntrica e intolerante; mais de uma vez, discutiu com o Tobias usando aquele típico argumento patético “Eu sempre estou certa e você sempre está errado!”. Quantas vezes eu quis que alguém desse um tapa na cara dela para que ela parasse de ser prepotente...

E o final? Que tipo de final foi aquele? Não, eu não estou reclamando do fato de a Tris ter morrido. Eu achei bastante válido; depois de tudo o que ela enfrentou, esse era o único final que honraria a sua memória. O grande problema está na resolução de todo o resto. Em Chicago, os novos e os antigos rebeldes estavam prontos para guerrearem até a morte, quando o Tobias propõe uma reunião em família (lembrando, novamente, que os pais deles controlam, cada qual, um núcleo de rebeldes) e, em menos de dois minutos, todo o ódio existente entre ambos os lados está resolvido. Porque a vida é simples assim!


I suppose a fire that burns that bright is not meant to last.

Fora de Chicago, a Tris morre e... Por causa de algum motivo que eu ainda não compreendi, os cientistas que controlavam aquela base decidem que irão parar de interferir em Chicago e que irão promover a igualdade entre as pessoas, abolindo o conceito de que pessoas com DNA modificado são inferiores as de DNA puro.

E tudo isso acontece sem que seja mostrado o resultado. Enquanto todo o mundo está se modificando, tudo o que nós tomamos conhecimento é sobre a nostalgia do Tobias. Admito que aqueles capítulos finais foram lindos e emocionantes e que eu chorei muito, porém, eu acho que a morte da Tris foi superestimada. Todos os outros eventos são apagados por isso. Então, no Epílogo, é apresentada uma nova cidade de Chicago, que foi, praticamente, transformada em uma Utopia e... Espera um pouco! Volta, por favor! Como assim?
Como assim?


Em menos de dez anos? As pessoas aceitaram tudo isso de boa? Em um momento elas estavam prontas para lutarem até a morte; no seguinte, tornam-se bons vizinhos novamente? Isso é sério? De verdade? Prefiro acreditar que eu perdi algum detalhe, sinta-se livre para comentar sobre o livro e a discordar de qualquer coisa que eu escrevi.

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