Em defesa dos fãs de Draco Malfoy

11:59

J.K Rowling publicou uma biografia do Draco Malfoy em conjunto dos seus pensamentos sobre o personagem, em que ela ressalta que o seu propósito ao criá-lo foi mostrar um personagem com características de bullyings, cruel e frívolo. 

Certamente, ela deve ter passado algum tempo pelas muitas páginas de fanfics dedicadas ao Draco no Fanfiction.net para escrever isso, pois fez questão de destacar que tem o dever de apontar para tolas garotas iludidas o tipo de pessoa horrível que Draco é.

Nas palavras da própria escritora:
“Por isso tudo, Draco continua a ser uma pessoa de moral duvidosa nos sete livros publicados, e por muitas vezes tive razão para ficar nervosa pelo número de meninas que se derreteram por esse personagem em particular (embora eu não descarte o apelo de Tom Felton, que interpreta Draco brilhantemente nos filmes e, ironicamente, é a pessoa mais legal que você poderia encontrar). Draco tem todo um glamour sombrio do anti-herói; as meninas são muito aptas a romantizar essas pessoas. Tudo isso me deixou em uma posição nada invejável de despejar o frio bom senso nos devaneios fervorosos dos leitores, dizendo a eles, bastante severamente, que Draco não estava escondendo um coração de ouro sob todo aquele sarcasmo e preconceito e que, não, ele e Harry não estavam destinados a se tornar melhores amigos.”
Eu entendo que ela esteja preocupada com a romantização de um de seus vilões, porém não se deve humilhar os seus fãs dessa maneira. 

A série de Harry Potter é cheia de personagens com personalidades dúbias, anti-heróis, como Sirius Black, vilões cativantes, como Draco e Tom Riddle, e anti-vilões, e nesta categoria se encaixa Severus Snape. E só isto é o bastante para incitar a imaginação dos fãs, que se apropriam da história para criar as suas próprias. Este é um movimento cada vez mais comum, que pode ser observado, sobretudo, através das fanfics. A partir do momento em que se publica um livro, um conto, qualquer tipo de história, esta não mais pertence somente ao autor, pois cada leitor terá uma interpretação diferente dela, e é direito seu expô-la. 

Da mesma forma que compreendo a preocupação da J.K., compreendo o apelo forte que Draco possui. Ele é um personagem interessante, pois, antes da publicação de sua biografia, tínhamos pouca informação sobre sua infância, seus anos na escola e seu futuro, além do que era mostrado pelo olhar de Harry (que está sujeito a juízos de valores e distorções). Os fãs procuraram preencher essas lacunas com as suas interpretações, que estão baseadas, claramente, no sucesso que anti-heróis e vilões possuem em nossa época. Eles costumam ser mais cativantes e interessantes que os heróis, porque eles possuem um sofrimento maior, mais próprio, e uma personalidade que pode oscilar entre características redentoras e más ações, o que os fazem parecer, para nós, mais humanos que o mocinho da história.

Ouso dizer ainda mais isto: Uma pessoa pode, sim, adorar um personagem sem, necessariamente, fingir esquecer ou criar desculpas para as más ações dele. E, se existem pessoas que shippam o Draco com a Gina, o Harry, a Hermione, quem quer que seja, é por causa da paixão que todos nós temos por relacionamentos dramáticos e tempestuosos, um mal herdado desde que Romeu e Julieta apareceu neste mundo.

Isto que falo não vale somente a ele, vale para qualquer personagem. O autor pode ter uma visão sobre ele e trabalhar em cima disso, mas é o fã que a interpretará da forma que mais lhe convier. E não acho que seja justo com ele que o autor fale que esta sua interpretação seja fruto de “devaneios fervorosos” e que ele está errado em “distorcer a verdade dos fatos”. Não existe nenhuma verdade universal, sobretudo nos livros. Desejar que isto exista, para mim, seria a pior das ditaduras.

You Might Also Like

3 comentários

  1. Oie Isa
    bem, achei a declaração da Rowling um tanto exagerada. Eu gosto de interpretar um personagem do meu jeito. E isso acontece e muito com os vilões, a quem comumente me afeiçoo muito.Quanto a Draco, o último filme deixa subentendido que ele era tinha um coração bom por baixo das maldades. Mesmo que a J.K tente deixar claro que ele era 100% mal, eu prefiro ficar com o meu julgamento rs e posso afirmar que eu me apaixonei por ele no primeiro livro (muito antes de ter visto o ator que nem era tão bonitinho assim na época do filme rs)
    bjos e feliz 2015
    www.mybooklit.com

    ResponderExcluir
  2. Ótimo post! Eu gosto de Harry Potter, mas o maniqueísmo dos personagens é irritante e só deixa o livro pior do que deveria ser. Nem tudo é totalmente bom ou ruim, correto ou errado. O Draco Malfoy é um de meus personagens favoritos não por ser o vilão, mas por possuir uma dualidade e uma profundidade de personalidade que outros personagens não possuem.
    E eu fico irritada com esse posicionamento da autora porque revela para mim que ela parece ser bem mais rasa do que eu esperaria... e isso é uma pena para uma autora que acompanhou minha juventude.


    Beijos, Nereida
    Água-Marinha.Net

    ResponderExcluir
  3. Eu confesso que também me pego assustada com o afento que as pessoas tem por uma pessoa abusiva e racista como o Draco. Ele não trata bem ninguém e ainda chama a Hermione de "sangue ruim" que equivale a chingar pessoas negras, pobres, LGBTs ou judias! Ele é racista! Eu não acho que ela humilhou os fãs só teve um momento de medo em relação as meninas que romantizam pessoas abusivas, um medo com o qual eu também me identifico, diga-se de passagem.

    Lembro que a primeira vez que vi uma menina dizendo que o personagem favorito dela na série era o Draco fiquei me perguntando se havia esperança para o mundo. Porque ele é um menino rico, preconceituoso e covarde que ataca os mais frágeis... Ele ridicularizava o Rony por conta das roupas dele, essa dor eu conheço a de ser ridicularizada porque uso uma roupa velha ou um sapato surrado. Agrediu verbalmente a Hermione e não sentia remoço por isso... Ele é o tipo de pessoa que se sente superior as outras por ser rico e privilegiado.

    Embora respeite o direito das pessoas de idealizarem e se iludirem e montarem um mundo no qual uma pessoa assim possa mudar ou não ser tão assim... eu estou do lado da J. K., faria o mesmo que ela fez. Embora acredite que não adiante muito, porque as pessoas sempre vão interpretar as histórias como querem e podem e não como o autor deseja!

    Pandora
    O que tem na nossa estante

    ResponderExcluir

Instagram