Amante Sombrio, J. R. Ward
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Não faço a menor ideia de como começar esta resenha. Parte da culpa deve-se à minha fiel preguiça (esta que vós escreve deve acordar antes das 6h50min, sendo que já se passam das 23h da noite), a outra parte é exclusivíssima minha, porque meu ser encontra-se completamente dividido. Estou fadada à dicotomia - não sei se adorei Amante Sombrio ou se ele é apenas outro livro que me decepcionou. Sem dúvidas, há pontos fortes, que me fazem querer recomendá-lo. Contudo, os pontos fracos deixam-me revoltada! Mas, acho que, neste segundo caso, o problema sou eu, não o livro.
Amante Sombrio conta a história de Elizabeth, uma aspirante a jornalista que, em uma pacata noite, sofre uma tentativa de estupro. Em casa, na mesma noite, ela recebe a visita de um estranho gigante musculoso em seus sonhos. No dia seguinte, ao constatar o vaso quebrado no chão, ela começa a suspeitar que, talvez, o seu sonho possua mais veracidade do que julgara. Naquela noite, Wrath revela-se par Beth e, inesperadamente, enlaça o seu destino ao dela. Enquanto isso, no subterrâneo, uma sociedade movida pelo ódio movimenta-se e a luta contra vampiros e redutores torna-se mais sombria e perigosa do que nunca antes. Um policial corrupto, Butch, encarregado de desvendar o misterioso caso de um possível serial killer, descobre-se imergindo em um mundo antigo e desconhecido, em que seres imortais caminham pela terra, alimentam-se de sangue e vendem suas almas por imortalidade. Contudo, nada é o que parece ser.
Essa é a premissa que J. R. Ward nos oferece em Amante Sombrio. Ela traça uma teia de personagens que em algum ponto irão se cruzar para desenvolver a narrativa, cada uma dessas personagens apresentam momentos próprios, de onde a autora narra fatos que, a primeira vista, parecem aleatórios, mas que, a longo prazo, serão fundamentais para compreender certos acontecimentos. Esse jogo de pontos de vista é fabuloso! Foi uma das coisas que mais gostei no livro. Ademais, como a narração pula de uma personagem para outra, a minha curiosidade não me permitiu largar o livro até saber exatamente o final nem para ir beber água, porque eu sempre precisava saber o que iria acontecer com uma personagem e como as ações dela iriam influenciar a vida das outras personagens. Resultado: li o livro em dois piscares de olhos! Só não o li mais rápido, porque eu sou cinéfila, e fico reversando minha atenção entre livros, filmes, séries e fanfictions.
Outro ponto forte é a personagem principal, Beth. Essa moça me faz tão orgulhosa! Sinceramente, eu estava esperando que ela fosse ser outra cópia da Bella! Porém, não, não, nunca estive tão enganada em toda a minha vida! Elizabeth é uma mulher com personalidade forte, que não aceita ser submetida aos caprichos do seu macho; ela tem voz e, sobretudo, várias ligações neurônicas, o que a permite ser capaz de pensar por conta própria e opinar sobre a sua vida e a das pessoas que ama. Palminhas, por favor!
Falando em personagens fortes, outra coisa que gostei muito nesse livro foram as características físicas e psicológicas das personagens. Sabe, um livro sobre vampiros facilmente pode se transformar em um clichê de proporções épicas, caso o(a) autor(a) não for sábio(a) o bastante para saber escolher as prioridades da sua estória. Em Irmandade da Adaga Negra, as personagens masculinas não são príncipes encantados irreais, mas homens com características bem acentuadas; eles são homens fortes, gigantes, com marcas de centenas de batalhas, chegam a ponto de serem monstruosos, ao mesmo tempo em que são muito irritadiços e explosivos, mas frágeis, quebradiços. Apesar de aparentarem ser insensíveis e frívolos, eles são capazes de amar, capazes de sofrer pelo próximo e de se doar por uma causa maior do que eles.
Aproveitando a deixa, parto para o próximo tópico que me agradou: o Bromance! A mútua relação de respeito e de carinho entre os participantes da Irmandade é algo lindo! Achei isso, aliás, mais interessante do que o romance entre Wrath e Beth. Gostaria de que a história fosse mais focada nesses guerreiros, não tanto no romance. Por causa desse foco, eu conheci de forma superficial a incrível mitologia que a autora criara. Contudo, eu a perdoo, porque tenho a esperança de que ela a desenvolva melhor nos livros seguintes.
Na saga Irmandade da Adaga Negra, o conceito de vampiros é completamente original: Eles nascem vampiros, ou seja, tal condição não é transmitida ao humano através da mordida ou de algum ritual, e, para sobreviverem, eles precisam beber sangue de outro vampiro do sexo oposto, pois, apesar de o sangue humano também servir, este é fraco e incapaz de saciar as suas reais necessidades. Vampiros são capazes de procriar, por isso nascem "humanos" e precisam passar pela Transformação, uma espécie de metamorfose na qual eles abandonam os seus corpos de humanos para assumirem a condição de seres imortais. A sociedade dos vampiros está dividida em três classes básicas: a realeza, os guerreiros e os civis. Os vampiros civis são mais frágeis e se curam com a mesma velocidade humana, sendo também suscetíveis a doenças; somente os vampiros guerreiros possuem realmente todas as características vampirescas em si, como força e velocidade extraordinárias e capacidade de curar-se com rapidez.
Os vampiros possuem um dialeto próprio, criado pela autora para realçar a distinção entre a sua mitologia e as demais e usado sabiamente na obra. Outro elemento mitológico próprio é a crença na deusa chamada de Virgem Escriba (nome horroroso, não?). Ela é uma deusa interessante, porque ela foi ao encontro das minhas expectativas. Eu entro em pânico ao ver uma espécie de deus criador de vampiros que seja gentil e puramente benévolo! Não engulo! J. R. Ward teve o bom senso de criar uma deusa imaterial, boa e sábia, mas também dotada de características feias que são marcantes, também, nos seus filhos, como o orgulho, a raiva e a intolerância. Aliás, a Virgem Escriba irrita-me muito! Qual o problema de alguém lhe fazer uma pergunta? Por que não pode? É um pecado ou algo do tipo? Não entendi. Por favor, alguém me explique!
Nesta história, na minha opinião, apesar de os vampiros não serem completamente bons, eles também não são vilões. Eu sinto que há uma nítida dicotomia entre bem e mal, aquele representado pelos vampiros; este, pelos redutores. Isso é o que mais me desagradou. Eu estava adorando ver as personagens humanizadas, cheias de dores do passado e tudo o mais, quando, de um capítulo para o outro, aparentemente, os "bonzinhos irmãos guerreiros" começaram a ser exaltados, enquanto os redutores eram vistos unicamente pela óptica de malvados inconsequentes! Não dá para levar a sério vampiros que não sugam o sangue de humanos até que não reste mais nada! Todo aquele papo de "Nós não matamos humanos, porque não precisamos do sangue deles" deixou-me, outra vez, realmente irritada! Sem falar que, para um guerreiro vampiro perigoso e sádico, Wrath gosta demasiadamente de sexo casual... Pois é... Prefiro deixar o resto nas entrelinhas.
Outra coisa que me irritou demais foi o romance fácil entre Wrath e Beth. Mas, isso, tenho convicção, é um problema meu, não do livro. Eu detesto essa subespécie de relacionamento imaginário em que o homem olha para a mulher, a mulher olha para o homem, e é amor eterno! Não dá para acreditar que um guerreiro vampiro perigoso e sádico se apaixone perdidamente por uma mulher com que ele fez sexo duas ou três vezes! Por que ela deveria ser diferente de todas as outras centenas de mulheres que ele já possuiu? Talvez, seja algo relacionado a destino...
De qualquer modo, seja o que for que os fez se amarem tão enlouquecidamente,o meu maior problema nessa relação é com o Wrath. Eu simplesmente não consigo levá-lo a sério! PRONTO FALEI! Desde o primeiro momento em que eu o vi, ainda na página 16, eu já comecei a rir em escárnio dele; cada nova aparição era motivo de gargalhadas enlouquecidas! Vejam a primeira descrição dele e digam-me como levar a sério essa criatura:
"Wrath: quase dois metros de puro terror trajado em couro. Seu cabelo era liso, longo e negro, partindo do bico de viúva no alto da testa. Pesados óculos escuros escondiam os olhos jamais vistos por alguém. Os ombros tinham o dobro do tamanho do da maioria dos homens. No rosto, a um só tempo aristocrático e brutal, transparecia o rei que era por nascimento e o guerreiro no qual o destino o transformara."
Não dá, gente! Desculpem-me, não simpatizei com ele e ponto.
O que mais me decepcionou nesse livro foi o rumo dado às personagens. Elas começam interessantes e cheias de possibilidades e terminam... Bem... Caricaturadas. É tudo tão idealizado, fofinho e com ares dos antigos filmes da Disney. Eu gostaria de ver um final mais brutal, digno dos membros da Irmandade. Mesmo assim, o final é bom, nele há boas surpresas que me deixaram embasbacada, literalmente. Porém, no total, é óbvio e feliz demais. Outra vez afirmo: O problema é o meu gosto pessoal, não o livro! Como esse é apenas o primeiro livro da saga, fico esperançosa de que o final definitivo dela satisfaça as minhas expectativas.
Em vias da dúvida, diria que Amante Sombrio merece 3,5 estrelas de 5. Recomendo muitíssimo para quem gosta de vampiros, de narrativas empolgantes e de um bom plot de romance policial! Apesar de ser mais lembrado por suas cenas eróticas, garanto que estas não são vulgares, desnecessárias e longas, elas são importantes para criar a estranha relação entre Wrath e Beth. Portanto, os mais acanhados, não se sintam intimidados!
Sobre a saga Irmandade da Adaga Negra:
Lançados no Brasil, há 11 volumes. Porém, nos EUA, há um total de 12 mais um guia sobre a série. Cada livro narra a história de um guerreiro e de sua jornada de redenção. Saiba mais no SobreLivros.
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