A Senhora da Magia (As Brumas de Avalon #1) - Marion Zimmer Bradley
12:05Neste enorme e emocionante romance, a lenda do rei Artur é contada pela primeira vez através das vidas, das visões e da percepção das mulheres que nela tiveram um papel central. Igraine, Viviane, Guinevere, Morgana. Elas revelam, com as suas vidas e sentimentos,a lenda de Artur, como se fosse nova de, ao mesmo tempo, levam o leitor a integrar-se na história, de maneira natural e profunda. Assim, esta obra proporciona uma narrativa soberba de uma lenda, e a recriação dessa lenda, bem como a brilhante contribuição para a literatura do ciclo arturiano.
Muitos temas delicados num único livro resultam numa resenha que poderá conter conclusões, no mínimo, polêmicas, para certas pessoas.
Poderá conter o prenúncio de um spoiler... Na verdade, isso é menos uma resenha e mais uma série de devaneios acerca da leitura...
Eu esperava ler a história de Artur sobre a perspectiva dessas quatro mulheres, todavia, nesta série, o Artur é mero coadjuvante. A história é centrada nestas mulheres, em seus medos, em seus amores, em seus sonhos e em seus desejos. Elas têm personalidades bem distintas e, todas elas, querem algo diferente de Artur, e farão o que for preciso para influenciá-lo.
A história tem início através da pacata vida de Igraine, que aceita sua infeliz vida casada com um cristão, em terras longe daquelas em que nasceu e cresceu. Como está vivendo em terras cristãs, ela foi obrigada a negar sua magia e sua crença na Deusa, assim como teve que aprender a se comportar de um forma diferente, calar seus desejos e viver à sombra de seu marido. Essa realidade muda quando Merlin e Viviane, que é sua irmã e a Grande Sacerdotisa da Deusa, chegam com o prenúncio de seu destino - Igraine seria mãe do Grande Rei, aquele que unificaria a Bretanha e que acabaria com as constantes guerras.
“O mundo é a projeção daquilo que os homens acreditam.”
Porém, esta criança não seria filha de seu atual marido, pois o Grande Rei teria que ter o sangue antigo, assim como o dos clãs do Norte e ter o apoio dos romanos. Aqui surge o primeiro tema polêmico, que, para a surpresa geral, não é adultério, mas o direito de a mulher viver a sua sexualidade e ter controle sobre o seu corpo.
Igraine não é cristã de nascimento, ela cresceu em terras celtas, onde a sociedade era matriarcal e tinha tradições de igualdade entre os sexos. Ela foi ensinada que as mulheres tinham direito sobre os seus corpos e que, portanto, poderiam fazer sexo com quem quisessem, sem que, necessariamente, fossem casadas ou compromissadas com estes. Sexo era algo natural, a mulher era uma forma divina. No entanto, ao se casar com um homem que seguia os costumes romanos (lembrando que, nesta época, o Império Romano já era cristão), ensinaram-na que o corpo da mulher era um pecado e que a única serventia de uma mulher seria ao casamento e à criação dos filhos. Para piorar a sua situação, muitos a veem como uma bruxa, pois ela vivia num lugar onde se acreditava na magia.
“… é que não existe história totalmente verdadeira. A verdade tem muitas faces e assemelha-se à velha estrada que conduz a Avalon: o lugar para onde o caminho nos levará depende da nossa própria vontade de nossos pensamentos …”
Um elemento muito interessante nesta série é a magia. Ela não aparece como algo surpreendente e sobrenatural; na verdade, ela é parte da vida de certas personagens, é tão natural quanto o ato de respirar. Igraine possuí o dom da Visão, o que a permite ver fragmentos do futuro. Sua irmã, Viviane, é um sacerdotisa da Ilha de Avalon e, por isso, possui poderes ainda mais grandiosos. Morgana, primeira filha de Igraine, também nasceu com dons que seriam vistos como demoníacos naquela sociedade cristã em que nasceu.
Por isso, Morgana foi viver com sua tia, Viviane, em Avalon, onde aprendeu a controlar seus poderes e a se preparar para ser uma sacerdotisa da Deusa. A magia, além de aparentar ser algo grandioso e muito especial, também apresenta suas limitações e seus perigos. Quando usada em excesso ou sem a devida preparação física e psicológica, ela poderá destruir o corpo e a sanidade de uma pessoa. Além disso, a vida de uma sacerdotisa não é fácil nem cheia de prazeres; muito pelo contrário, elas renegam sua liberdade aos desejos da Deusa.
Eis que surge outra polêmica, ao meu ver: Em toda religião, sempre haverá abusos de poder feitos através do uso da imagem da "Entidade Superior".
A religião da Deusa, em sua base, é bela - aqueles que a seguem prezam pelo cuidado à natureza, pelo respeito a todos os seres, pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. Contudo, no momento em que existe uma sacerdotisa que deverá ser a principal representante da Deusa na Terra, há certa corrupção nos preceitos dessa base.
Viviane é uma mulher maravilhosa, é verdade, porém não dá para negar todas as coisas terríveis que ocasionou até mesmo às pessoas que mais amava. Ela manipulou sua irmã e Morgana para realizar aquilo que queria, o fim que achava ser o correto, de forma que perdeu a noção sobre o que era "vontade" da Deusa e sobre o que era a sua própria vontade. Ela sabia muito bem quais seriam as consequências dos atos que impunha a essas pessoas, sobretudo à Morgana. Porém, não permitia que essas pessoas tivessem uma segunda escolha, queria, na verdade, que elas confiassem quase que cegamente nela.
"O importante é o que acontece na alma do homem, e não se ele é cristão, pagão ou druida."
Quando Morgana se encontra em seu momento de maior fragilidade, Viviane é incapaz de ceder e de deixá-la se libertar da sua dor. Por isso, Morgana procurará abrigo nos braços de sua outra tia, Morgause, quem, talvez, ajudou a planejar a morte de seu meio-irmão, Artur, para que seu filho fosse o único legítimo herdeiro do trono. Morgause é vista por Viviane como uma pessoa maldosa, egoísta e narcisista, porém ela é a única a ser gentil e a oferecer real ajuda à Morgana.
A própria Morgana é uma personagem repleta de contradições. É impossível odiá-la, pois, entre todas as mulheres apresentadas, ela é a mais humana. Ela não é impulsa, mas possui grandes sentimentos e uma personalidade forte, teimosa e aventureira. Em muitas adaptações da história do Rei Artur e de seus cavaleiros, ela é representada como a grande vilã, e, nesta série, eu acho que não será diferente. Contudo, para mim, ela não é uma vilã maldosa e egoísta; ela é apenas uma garota que sofreu muito e que tenta salvar aquilo que ama da maneira que pode.
"As palavras que falamos lançam sombras do que virá e, dizendo-as, fazemos com que se tornem realidade."
Neste primeiro livro, não foi possível conhecer, ainda, outra importante mulher - a Guinevere. Porém, o pouco mostrado sobre ela já me fez detestá-la. Na verdade, nunca simpatizei com esta personagem por inúmeros motivos... De qualquer forma, já estou lendo a continuação e, felizmente ou não, Guinevere será uma presença constante e importante para a história.
E, você, já leu A Senhora da Magia?
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E, você, já leu A Senhora da Magia?
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Saga de As Brumas de Avalon:
- A Senhora da Magia
- A Grande Rainha
- O Gamo Rei
- O Prisioneiro da Árvore
3 comentários
Vejo muitos comentários positivos sobre essa saga, esta na minha lista.
ResponderExcluirAdorei sua resenha/devaneio =D
Oficina do Leitor / Facebook
Oiee
ResponderExcluirNunca li esse livro mas minha mãe adora , apesar do tema ser interessante ainda não senti aquela vontade de ler, e por ter mais volumes precisa de mais tempo mesmo para ler.
Beijos
www.livrosechocolatequente.com.br
Olá!
ResponderExcluirPra quem curte o gênero esse livro é um prato cheio, mas não é o tipo de leitura que curto, não consigo me interessar infelizmente! ;/
Beijos, Fer.
http://viciosemtres.blogspot.com.br/